A Medicina Dentária evoluiu tecnicamente de tal forma que
hoje é possível que a consulta seja praticamente indolor, e os
resultados obtidos, de elevado impacto estético e funcional.
O crescente grau de literacia, nível cultural e de informação,
e exposição das populações aos media e a estereótipos
gerados pela cultura de Hollywood gera pacientes com
expectativas de resultados cada vez maiores, obtidos de forma
segura e indolor, e a um custo financeiro razoável. Espera-se,
basicamente que o Médico Dentista possa, com facilidade,
suplantar-se à própria natureza, de forma rápida e barata.
O Médico Dentista, por seu lado, procura manter-se à altura
destas e outras exigências, sem poder descurar todos os
outros papéis possa ter de desempenhar dentro de uma
estrutura empresarial: o de responsável clínico, o de gestor
da unidade de saúde, o de direcção de recursos humanos,
entre outros. Espera-se que num espaço de trabalho diminuto
(a cavidade oral), medido em milímetros e com um forte
significado psicossocial para o paciente, se encontre solução
instantânea para a situação clínica, com tempo de trabalho
reduzido e se aumente o proveito financeiro do consultório,
mantendo ou elevando os níveis técnico-científicos, com o
ónus da responsabilidade sobre o clínico. E, para acrescentar
ao stress imposto, adicione-se a expectativa de não produzir
dor, trabalhando com um paciente consciente e muitas vezes
num estado de ansiedade tal, e é possível imaginar o tipo de
desgaste emocional imposto ao profissional no cumprimento
destes objectivos. Não é a responsabilidade do que se faz (essa
é transversal a todas as ocupações), são as condições em que
se o faz, pela necessidade de actuação num outro ser humano,
e a necessidade de premência e imediatismo na resolução do
problema.
Por outro lado, e não sendo de descurar, estão também
presentes na Medicina Dentária exposições a factores de
risco comuns a outros sectores empresariais: ruído dos
equipamentos, calor, vícios posturais, radiações ionizantes e
não-ionizantes, agentes químicos, por contacto ou inalação,
agentes infecciosos, traumáticos, entre outros. A maior
sensibilização e conhecimento por parte do Médico Dentista
para as consequências destas exposições para a sua própria
saúde e longevidade profissional pode contribuir para uma
maior ansiedade e fadiga emocional. Se todo este quadro
sugere que o burnout espreita atrás de cada esquina, também
merece ser referido que os bons laços que se criam entre
Pacientes e Médicos Dentistas e a satisfação da devolução da
saúde às pessoas equilibram bem esta balança. Não obstante,
a vigilância atenta de toda a Equipa de Saúde Ocupacional,
Médico e restantes Técnicos na identificação precoce destes
e outros factores de risco representará a abordagem correcta e
eficaz para que deles não advenham consequências.
Dr. Pedro Lopes
× Licenciado em Medicina Dentária pela Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra
× Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra
× Doutorado pela Universidad de Extremadura (Espanha). Prémio
extraordinário de Doctorado UnEX
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