Quando falamos emMedicina Dentária ou Saúde Oral, há imagens antigas que teimam
em ainda persistir: doentes que procuram cuidados apenas em situação de dor ou
infecção avançada e só quando acham que o seu sofrimento ultrapassa o que poderão
sentir na consulta; tratamentos cruentos, efectuados sem anestesias e em fracas
condições higio-sanitárias; uma cultura médica autoritária em que era esperado que o
Médico mandasse e que o doente obedecesse, sem discussões. Enfim, qualquer questão
dentária, fosse resolvida ou ficasse por resolver, implicaria muita dor.
Esta memória colectiva, embora esteja a desaparecer, ainda vai persistindo e representa
um desafio a muitos níveis. Curiosamente, e com uma alteração do paradigma da
relação Médico Dentista - Paciente, também a nível da Saúde Ocupacional poderá
ser necessário exercer uma reflexão adicional sobre o assunto. O que torna a Saúde
Ocupacional uma especialidade fascinante é a variabilidade enorme na intervenção
consoante o posto de trabalho a ser vigiado, e a necessidade de adaptação constante
à evolução das exigências e condições laborais. A Medicina Dentária não será muito
diferente das restantes profissões, mas apresentará as suas particularidades quanto à
exposição a riscos psicossociais por parte dos trabalhadores, nomeadamente no que
diz respeito ao stress sofrido pelo profissional.
Quando se fala em Medicina Dentária, o habitual é que o pensamento fuja para o
binómio Médico Dentista - doente e para a consulta em si. Pensa-se no Médico Dentista
como o interveniente activo no processo, o perito a quem se recorre para prevenir ou,
mais habitualmente, resolver situações dolorosas na cavidade oral. Pensa-se no doente
como desempenhando um papel passivo, de quem se limita a aparecer e cooperar,
ou ao menos consentir no tratamento que lhe é apresentado pelo Médico Dentista,
reconhecendo necessidade sua da proficiência e da competência especializada para
execução de tarefas tecnicamente complicadas. Assume-se uma relação paternalista
em que o Médico Dentista toma um papel de comando decisório, mas em que também
chama a si toda a responsabilidade pelo bem-estar e integridade física e psicológica do
doente, pelo menos no decurso e do tratamento. Pensa-se, eventualmente, na consulta
como ummomento desagradável ou doloroso que só acontece para evitar desconfortos
ou dores maiores. Ou, pelo menos, pensava-se.
Dr. Pedro Lopes
STRESS NO CONTEXTO PROFISSIONAL
MEDICINA DENTÁRIA
ARTIGO PROFISSIONAL
magazine risco zero