Magazine Risco Zero N.º11
/65 afectadas de diferentes modos, através do stress emocional que acarreta, das pressões financeiras, do isolamento físico. Por sua vez, as mudanças que ocorrem na vítima, nomeadamente as variações de humor, a frustração, a revolta, podem tornar mais difícil a relação. Para além disso, muitas vezes, os parceiros da vítima acabam por ter de abdicar de determinadas coisas que faziam para poderem prestar cuidados à vítima ou assumir no- vas responsabilidades e o facto das vítimas necessitarem de se centrar em si próprias faz com que os parceiros se sintam isolados e frustrados. A acrescentar a todas estas pressões emo- cionais, as pressões financeiras são garantidamente algo que afecta negativamente a relação. De referir que especificamente no contexto angolano, o papel do homem é muito central, com crenças muito particulares em relação ao seu papel de cuidador e por isso, uma lesão que implique por exemplo uma amputação, pode condicionar, sig- nificativamente, a sua (re)integração na vida familiar e social, conduzindo-o muitas vezes a contextos de exclusão, rejeição e isolamento social. Orientações de intervenção: testemunhos reais e abertura dos impactos à comunidade de trabalhadores A identificação dos custos e dos impactos dos acidentes de trabalho tem mobilizado um conjunto de acções de conscien- cialização e de informação para todas as partes interessadas, na medida em que a construção de uma cultura de seguran- ça só poderá ser desenvolvida com a participação sustentada e responsabilizante do conjunto de actores significativos neste processo. Ninguémmelhor do que os próprios agentes lesados no aci- dente de trabalho para passar a mensagem, para sensibilizar, para corporizar a distracção, a falta de cuidado, o excesso de confiança ou simplesmente refutar aquela velha, desajusta- da e irreal crença de que só acontece aos outros. Neste quadro, a tomada de consciência pelo trabalhador do conjunto de custos e impactos para a empresa, ao nível indi- vidual, familiar e social parece desempenhar um papel crítico na transformação das atitudes e comportamentos de seguran- ça face ao trabalho. Desta forma, o absentismo e as perdas de produção poderão ter consequências não só para o próprio, que pode ver os seus prémios de produtividade e de assiduidade re- duzidos, como também para a empresa, como igualmente para os colegas de trabalho que poderão ser sobrecarregados com trabalho ou prejudicados em termos de evolução e prémios. Desta situação resultam custos humanos e sociais altamente significativos, para além de uma enorme sobrecarga para a eco- nomia da empresa. Testemunhos Reais: do peso do acidente à riqueza da partilha da experiência na Comunidade Conduril O trabalho desempenha um papel central na vida das pes- soas e, por consequência, quer no plano individual, quer no plano social, assume uma multiplicidade de funções e de significados, assumindo-se como a base de integração social e a principal referência na organização da vida pes- soal. Em boa verdade, trabalhando entre 8 a 9 horas por dia, esta actividade, a profissional, ocupa grande parte do dia, da vida activa. Neste sentido, aumentamos exponencial- mente o risco de desenvolver uma doença profissional ou mesmo de ter um acidente de trabalho. Estamos expostos e por isso somos vulneráveis. Somos instantes e por vezes colocamo-nos, momentaneamente, em situações perigosas ora por excesso de confiança ou como diria um colaborador da Conduril, vítima de um acidente de trabalho, ora por fa- cilitismo e porque achamos que já dominamos a máquina. "O disco puxou e a gente não estava a contar com tanta velocidade. Naquele dia aconteceu. Até já tinha traba- lhado com peças mais pequenas. Como fiz naquele dia já tinha feito imensas vezes. Talvez o facilitismo, o dia-a- -dia. E a confiança que a gente acha que tem com a má- quina. Mas às vezes acontece. " Excerto de uma entrevista a um colaborador da Conduril Angola, após acidente
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