Magazine Risco Zero N.º11

/63 Ainda que os riscos existentes sejam catalogados segundo uma terminologia comum, para o entendimento de todas as partes interessadas, não existem “dois riscos iguais” . O mesmo se passa com os acidentes de trabalho e sobretudo o mesmo se passa com as consequências no trabalhador, sejam a nível físico, na sua família, na sua vida social, na actividade profissional. Acidente de trabalho: diferentes dimensões de impactos O trabalhador vítima de um acidente de trabalho ou doença profissional despoleta inúmeros custos decorrentes da lesão ou doença profissional, nomeadamente a perda de rendimento, a dor e o sofrimento, a perda de futuros ganhos, de investimentos passados e custos médicos. Associados a estes encontram-se outros de natureza profissional, moral, social e familiar. Os vá- rios impactos estão, grande parte das vezes, interrelacionados. Se tomarmos como exemplo uma pessoa com uma lesão por esforço repetitivo, no seio de um quadro de diminuição da ca- pacidade físico-funcional, devido a uma tendinite crónica, ob- servamos frequentemente uma diminuição da sua capacidade de trabalho como também dificuldades acrescidas de realizar as suas tarefas domésticas. Adicionalmente, poderão emergir dificuldades em cuidar dos filhos despoletando mudanças na sua dinâmica familiar, o que poderá, por sua vez, ter um impac- to negativo na sua vida conjugal. Para além disto, a diminuição da sua capacidade produtiva bem como as despesas médicas que advêm da tendinite poderão levar a uma perda de rendi- mento, que terá implicações ao nível profissional, impedindo, por exemplo, a sua progressão na carreira, e ao nível familiar, causar uma diminuição do nível da qualidade de vida. Tudo isto poderá transportar sentimentos de frustração e culpa ou mesmo desencadear o isolamento social. O exemplo acima re- ferido permite colocar em evidência diferentes dimensões de impactos, relacionadas entre si, numa teia dinâmica. No presen- te artigo e muito devido às características socioeconómicas de Angola, iremos debruçar-nos sobre os impactos profissionais, familiares e sociais. Trabalhadores de Construção Civil: Importa, antes de mais, conhecer bem todos os trabalhadores, e compreendê-los, para que exista uma real possibilidade de se tornarem parceiros no processo de melhoria da segurança e qualidade e por consequência a produtividade da empresa. A mão-de-obra da construção civil apresenta características di- ferenciadas em relação a outros sectores. Em geral, têm pouca escolaridade (em Angola a taxa de analfabetismo foi de 24% no ano de 2017), não têm formação específica para a sua profissão (e são extremamente resistentes à educação contínua, ora devido a dificuldades de base de aprendizagem, financeiras e de dis- ponibilidade física e emocional – trabalhos fisicamente muito desgastantes), têm bastantes encargos familiares (famílias nu- merosas), o que faz com que tenham a necessidade de trabalhar nas horas de folga, inclusive nas férias, reduzindo, em muito, o período de descanso o que consequentemente afectando as suas funcionalidades cognitivas no trabalho. Convém, neste sentido, promover, para além de medidas di- rectas de segurança, como campanhas de consciencialização, formação no terreno, acompanhamentos em obra dos técnicos de segurança, fazer uso dos Equipamentos de Protecção Indi- vidual, elaborar documentos sobre a análise de trabalho e/ou controlo de riscos, entre outros, convém, à luz da crua e dura realidade angolana, olhar para dentro, fazer um zoom in, cen- trado no concreto, no in loco, que ilumina zonas mais próximas, férteis em significados, que maximiza o potencial da interven- ção empresarial junto dos colaboradores. Semdúvida, que apenas assimpoderemos melhorar a interven- ção multidesafiante em Segurança em empresas de Constru- ção Civil, em Angola. Poderíamos tecer várias sugestões, mas centremo-nos agora nos impactos profissionais que um aciden- te de trabalho pode ter no trabalhador.

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