Página 6 - magazine RISCO ZERO n1

a deixar crescer as grandes corporações financeiras. Os juros do dinheiro são o início
criminoso de todos estes colapsos.
Pode ser um drama constatá-lo, mas é uma realidade. O trabalho está a morrer. É certo
que todos os dias se criam novos postos de trabalho, mas se observarmos os números
absolutos, em 20 anos a capacidade produtiva duplicou, mas a ocupação só aumentou
5%.
O que é que isto quer dizer? Que cada vez menos pessoas fazem mais trabalho.
Porquê? Por causa da automatização de processos. Constatar este facto é o elemento
sociológico de maior interesse no nosso tempo.
Chama a atenção que, precisamente no momento em que o trabalho agoniza, este se
converteu nummito universal: tanto a direita, como o centro como a esquerda veneram
o trabalho, considerado como uma obrigação social. Todos os partidos lançammedidas
para “estimular” o trabalho, diminuir a fraude no desemprego, reciclar os trabalhadores,
etc. Nenhum explica – talvez porque na sua estupidez não o percebam - que o resultado
da era tecnotrónica é a eliminação progressiva do trabalho físico.
Na construção, há 20 anos atrás, construía-se uma casa ladrilho a ladrilho; hoje tende-se
às estruturas pré – fabricadas. Inclusivamente nos autocarros, até à pouco tempo eram
necessários um condutor e um cobrador, e dentro em breve haverá só um programa
computorizado que levará os passageiros ao destino. O trabalho agoniza. Mas nunca
como agora se prestou tal culto ao trabalho. O culto do trabalho pertence à mitologia
moderna. É universal, mas é um mito.
Nos últimos 20 anos assistimos a uma mutação imperceptível mas contínua. Paralela-
mente à morte do trabalho, está também em vias de extinção a economia de produção
que se converte progressivamente em economia de especulação.
Em primeiro lugar temos de considerar a morte do trabalho como algo irreversível; os
processos de automatização irão avançando e diminuirão progressivamente o mercado
de trabalho.
Felizmente a vida humana é extremamente rica em matizes. Além do trabalho existem
muitas outras formas de actividade: a criação artística, a investigação, a aprendizagem,
o estudo, cuja natureza é muito diferente da do trabalho e que, frequentemente é gerada
por interesses não económicos.
Uma das medidas a aplicar é a redução drástica dos horários de trabalho. Hoje é pos-
sível manter os salários com menos de 35 horas semanais. Além do mais, as reduções
de horários devem ser acompanhadas por medidas sociais: subvenção ao trabalho no
lar, protecção à família etc. As protecções no desemprego, longe de diminuir como até
agora, devem aumentar. E tudo isto que implica um forte aumento dos gastos públicos,
obtém-se mediante uma maior distribuição das receitas do Estado.
Técnico de Apoio à Direcção Geral do CSST
Licenciado em Engenharia Informática pela Universidade de Birmingham, Reino Unido.